quarta-feira, 1 de maio de 2019

Sublime perdão


            Sublime perdão é uma peça, em três atos, atribuída a Amaral Gurgel. Aparecem, em cena, Teodoro, um homem amargo, marcado pela morte violenta do filho Roberto, que lhe deixara a nora, Maria Alice, e a neta, Rosinha. Luiz é o filho de Teodoro que abraçou a carreira eclesiástica e que leva Rosinha à missa no presídio, onde a jovem conhece Alberto Pereira, assassino de seu pai, que, segundo a jovem, estampava o arrependimento no rosto. A peça conta o amargor que pauta a vida de Teodoro, cujo filho fora assassinado por Alberto – louco de ciúme, o homem agredia a mulher e Roberto, atendendo ao pedido de socorro dela, tentou acudi-la, mas foi baleado, o segundo tiro acertou a mulher de Alberto.

            Luiz, o padre, tenta aproximar o assassino, que já cumprira 14 anos de prisão, encontrando-se vítima de tuberculose, e sua família, despertando a ira do pai. Luiz chora o ódio que o pai carrega em seu coração. Na verdade, o padre afronta o pai e convida Alberto para a ceia natalina – esta novidade causa grande alvoroço para Rosinha que alega nunca ter tido um Natal, posto que, naquele dia, o avô tranca-se em um quarto e a mãe chora durante todo o dia. Diante da situação, Luiz conta para a jovem a sequência dos fatos e a morte do seu pai na manhã de Natal. Luiz fala: “E antes de morrer, seu pai perdoava o homem que o matara. Foi a dor de perder o meu único irmão, que me levou ao seminário... foi pelo gesto de perdão de seu pai, Rosinha, que eu me fiz padre”! Ouvindo isso, Teodoro declara: “E é por isso, que eu nunca poderei perdoar esse miserável, ele roubou-me dois filhos!”

            Teodoro volta-se, novamente, para a neta, afirmando-lhe que Deus concedia-lhe uma oportunidade para que a família vingasse a morte de Roberto. Rosinha discorda do avô, que decide mostrar-lhe o quarto em que Roberto morreu. Teodoro acende a luz, mostra-lhe a cama, a mancha de sangue no assoalho e uma arma descarregada. Trata-se da arma usada para matar Roberto e Teodoro reitera que, ali, jurara matar o criminoso que lhe tirara o filho. Nesse meio tempo, chega Alberto, que lamenta não ter uma casa para regressar; mas, Luiz afirma que Alberto permanecerá em sua casa, terá oportunidade de pedir perdão à família de Roberto. Alberto, agradecido, promete enfrentar a família e expressar-lhe o seu remorso– ele chega a cogitar a possibilidade de ter matado dois inocentes, demonstrando que não detinha certeza sobre a infidelidade da mulher. Alberto ajoelha-se diante de Maria Alice, Teodoro não permite que o homem aproxime-se e aponta-lhe uma arma, os demais gritam, mas Teodoro permanece decidido, mantendo o revólver apontado para Alberto, Luiz tenta interceder, mas é interrompido por Alberto:

Senhor Teodoro, veja, estou livre na sua frente. Pode matar-me. Mas de nada valerá isso, nem vingança há de ser... pois eu não sinto, eu não posso sentir a morte. Será tão somente uma maneira anticristã de aliviar os meus sofrimentos.

            Alberto coloca-se diante de Teodoro: “Senhor Teodoro... se a minha morte serve para pagar o mal que fiz, aqui tem a minha vida... É sua!” Teodoro atira, mas Rosinha põe-se à frente e é ferida. Luiz toma-a nos braços e encaminha-se para o hospital. Enquanto isso, Teodoro e Alberto permanecem na sala: “Devo-lhe mais uma vida senhor (...)”, afirma Alberto. Desesperado, Teodoro declara todo o seu ódio pelo assassino confesso do filho.

            No hospital, trava-se uma discussão sobre a existência de Deus. Primeiro, entre Luiz e Teodoro; depois, o próprio médico enuncia que Rosinha somente salvar-se-á se houver um milagre. Teodoro reafirma que não crê em milagres, o médico responde-lhe: “Então, meu amigo, o senhor é mais infeliz do que nós. O padre Luiz crê num Ente Superior que governa as criaturas... eu, além disso, acredito na minha ciência”. Teodoro, magoado, faz um balanço de suas perdas: Roberto, Luiz, a neta, a esperança de vingança e pede que lhe deixem com o seu ódio.

            Passadas duas horas, Maria Alice retorna, chorando, sem notícias da filha. Em seguida, o médico aproxima-se e avisa que a extração foi rápida e fácil. Rosinha, se não houver complicações, está salva. Maria Alice acompanha o médico e Luiz convida o pai para rezar. De um lado, Teodoro afirma que não sabe mais orar, de outro, o filho aconselha-o a conversar com Deus. Luiz reza a oração do Pai Nosso e é acompanhado por Teodoro. Ao encerrar-se a oração, Teodoro chora, Maria Alice aproxima-se: “Padre Luiz!... Senhor Teodoro!... A minha filha está salva!” Alberto reaparece e dirige-se a Teodoro, pede-lhe perdão, ajoelhado, mas o velho afirma que ambos são iguais, são miseráveis. Luiz abraça o pai que oferece um quarto, em sua casa, para Alberto, mas ele alega que a sua dor seria maior se, diariamente, visse o sofrimento de suas vítimas. Após a saída de Alberto, Teodoro murmura: “Como tudo é diferente... como é sublime...como é sublime perdoar!”


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