Em sua maioria, os
textos considerados dramáticos são adaptações de textos canônicos ou filmes de
sucesso. Entre as peças, cuja base era romances consagrados, encontra-se A escrava Isaura, de Bernardo Guimarães,
podendo-se incluir, nesta mesma linhagem, por exemplo, O morro dos ventos uivantes, de 1847, cujo texto original, em
inglês, foi escrito por Emily Bronte. Ainda é possível encontrar uma adaptação
da novela americana A cabana do pai Tomás,
de 1852, cuja narrativa, como tantas, encontra-se impregnada de fé e
religiosidade. Há também adaptações de filmes como Love Story ou Marcelino, pão
e vinho, cuja nota, nos dois casos, é o sofrimento dos protagonistas, que
se repetia em peças do teatro nacional e internacional que eram levadas ao
palco.
No caso de Marcelino, pão e vinho tem-se, na
verdade, uma adaptação da versão cinematográfica que já fora baseada na obra literária
homônima, o que, sem dúvida, faz o pesquisador avaliar que existe a
probabilidade de um afastamento significativo do texto original. Sabe-se, que,
em sua versão original, o romance tratava da história de um menino, Marcelino,
abandonado em frente a um mosteiro e criado por frades franciscanos. Ao final,
Marcelino protagoniza um milagre, de forma que fica evidente a conotação
religiosa da obra: Marcelino encontra um amigo no sótão, ele está pendurado em
uma cruz e oferece ao menino a possibilidade de reencontrar a sua mãe, cuja
ausência era motivo de sofrimento por parte da criança.

Seguindo a linha
delineada por Marcelino, pão e vinho
e pela adaptação de A canção de Bernadete
cujo enfoque recaía sobre a religiosidade, tem-se O céu uniu dois corações, um melodrama brasileiro escrito por
Antenor Pimenta, cujo desfecho, conforme anuncia o título, ocorre após a morte
dos protagonistas. De acordo com Pimenta (2009):
...E o céu uniu dois corações, primeiro
e mais significativo texto de Antenor Pimenta (1914-1994), foi o texto mais
encenado pelas companhias de circo-teatro, com milhares de representações. É
encenado até hoje em todo o país, principalmente por grupos de teatro amador e
de estudantes que se interessam por teatro popular, além das pequenas
companhias circenses que ainda mantêm a atividade teatral (...).
O texto foi escrito em cinco atos,
encadeados por ganchos folhetinescos e é um melodrama que emprega todos os
recursos do gênero: o forte contraste entre a torpeza do vilão e as virtudes da
ingênua, uma pobre órfã criada pela avó cega, enquanto seu pai, preso
injustamente, aguarda a restauração da justiça pelas mãos do herói, um jovem
apaixonado pela ingênua que se ilude com a dedicação do vilão, seu tutor e
verdadeiro assassino de seu pai, que tentará impedir de todas as formas a união
dos jovens, que só será possível no encontro apoteótico de suas almas no céu. (PIMENTA,
2009, p. 48)
A pesquisadora observa
ainda que o autor nunca cedeu os originais para encenação em outras companhias,
mas reconhece que ele se difundiu entre os itinerantes, sobretudo, a partir de
artistas que atuavam com Antenor Pimenta e que lhe subtraiam o texto,
vendendo-o por uma porcentagem nas bilheterias. A autora alude ainda a
possibilidade de que ensaiadores e atores de outros teatros assistissem à peça,
repetidas vezes, e copiassem trechos, adaptando-os à realidade de cada
companhia.