O melodrama é um gênero dramático que
surgiu logo depois da Revolução Francesa e que possui uma estrutura dualista em
que se defrontam, com clareza, o bem e o mal, a virtude e o vício, o vilão e o
herói.
Tal forma de espetáculo – o melodrama e
suas eventuais derivações - dominou o circo-teatro e/ou teatro itinerante no
Brasil, sobretudo, entre os anos de 1950 e 1980, sendo, paulatinamente,
retirado dos palcos com o advento da televisão e da telenovela.
Assim, os teatros itinerantes ou
mambembes exerceram importante papel por terem se configurado como uma etapa no
processo de popularização do melodrama em nosso país, de modo que constituem
parte de uma constante atualização estética em que as discussões entre o bem e
o mal, a virtude e o vício não se esgotam, renovam-se. Além disso, esses
teatros representaram relevante forma de entretenimento nos mais diversos
rincões do país num tempo em que não havia televisão e o cinema nem sempre
oferecia condições técnicas de funcionamento.
Thomasseau, o mais importante estudioso
do melodrama, destaca a tendência popular do gênero, ainda que, no palco, nos
posteriores à Revolução, a estética melodramática agradasse a todas as classes
que o compreendiam como a representação dos seus próprios interesses.
A paixão das classes mais
populares volta-se sobre ela mesma, nos espetáculos da virtude oprimida e
triunfante (...). A burguesia, que tem em mãos os negócios (...) aprecia o
melodrama porque ele tempera e ordena as tentativas mais ousadas do teatro da
Revolução, põe em prática o culto da virtude e da família, remete à honra o senso
de propriedade e dos valores tradicionais (...). A aristocracia, tanto a antiga
quanto a nova, não deixava, tampouco, de misturar-se ao populacho nos bulevares
para assistir aos espetáculos que, ao menos nos melodramas clássicos,
preservavam o senso de hierarquia e o reconhecimento do poder estabelecido
(THOMASSEAU, 2005, p. 14).
O gênero, no decorrer do século XX, encontrou,
nos meios de comunicação de massa, mecanismo significativo para a sua expansão,
posto que, desde a sua origem, o melodrama não se mostrou afeito a ambiguidades
linguísticas, nem a torneios verbais rebuscados, de modo que a sua compreensão
configura-se de maneira acessível a qualquer público, mesmo aquele que se
apresenta incapaz de abarcar certas sutilezas do entrecho – parece plausível,
nesta perspectiva, acrescentar que o romance, em sua gênese, segue uma linha
semelhante, abrindo mão da temática grandiosa e do tom grandiloquente das
tragédias e das epopeias para fazer-se compreensível ao homem burguês que não
dispunha do lastro cultural para entender as intrincadas tramas daqueles
gêneros consagrados na antiga Grécia.
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