segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

E o melodrama, hein?



O melodrama é um gênero dramático que surgiu logo depois da Revolução Francesa e que possui uma estrutura dualista em que se defrontam, com clareza, o bem e o mal, a virtude e o vício, o vilão e o herói.


Tal forma de espetáculo – o melodrama e suas eventuais derivações - dominou o circo-teatro e/ou teatro itinerante no Brasil, sobretudo, entre os anos de 1950 e 1980, sendo, paulatinamente, retirado dos palcos com o advento da televisão e da telenovela.

Assim, os teatros itinerantes ou mambembes exerceram importante papel por terem se configurado como uma etapa no processo de popularização do melodrama em nosso país, de modo que constituem parte de uma constante atualização estética em que as discussões entre o bem e o mal, a virtude e o vício não se esgotam, renovam-se. Além disso, esses teatros representaram relevante forma de entretenimento nos mais diversos rincões do país num tempo em que não havia televisão e o cinema nem sempre oferecia condições técnicas de funcionamento.

Thomasseau, o mais importante estudioso do melodrama, destaca a tendência popular do gênero, ainda que, no palco, nos posteriores à Revolução, a estética melodramática agradasse a todas as classes que o compreendiam como a representação dos seus próprios interesses.


A paixão das classes mais populares volta-se sobre ela mesma, nos espetáculos da virtude oprimida e triunfante (...). A burguesia, que tem em mãos os negócios (...) aprecia o melodrama porque ele tempera e ordena as tentativas mais ousadas do teatro da Revolução, põe em prática o culto da virtude e da família, remete à honra o senso de propriedade e dos valores tradicionais (...). A aristocracia, tanto a antiga quanto a nova, não deixava, tampouco, de misturar-se ao populacho nos bulevares para assistir aos espetáculos que, ao menos nos melodramas clássicos, preservavam o senso de hierarquia e o reconhecimento do poder estabelecido (THOMASSEAU, 2005, p. 14).

O gênero, no decorrer do século XX, encontrou, nos meios de comunicação de massa, mecanismo significativo para a sua expansão, posto que, desde a sua origem, o melodrama não se mostrou afeito a ambiguidades linguísticas, nem a torneios verbais rebuscados, de modo que a sua compreensão configura-se de maneira acessível a qualquer público, mesmo aquele que se apresenta incapaz de abarcar certas sutilezas do entrecho – parece plausível, nesta perspectiva, acrescentar que o romance, em sua gênese, segue uma linha semelhante, abrindo mão da temática grandiosa e do tom grandiloquente das tragédias e das epopeias para fazer-se compreensível ao homem burguês que não dispunha do lastro cultural para entender as intrincadas tramas daqueles gêneros consagrados na antiga Grécia.


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