Depois da consagração do circo em
território nacional, o próximo passo parecia “natural”: a introdução da
dramaturgia e ela aconteceu, primeiro, com a inserção da pantomima, depois, das
farsas cômicas. Surgia, assim, um espetáculo marcado pela capacidade de
improvisação, pela diversidade temática que era buscada no prosaico, nos temas
cotidianos, visto sob a verve irônica ou, por outro lado, com caráter crítico.
Fixava-se um palco para encenação na
tradicional estrutura circense. Emergiam as figuras dos autores e adaptadores
de textos, sendo que a figura do ensaiador adquiria relevância no meio
circense, ainda que, em geral, as duas funções (escritor e ensaiador) fossem –
e sejam – acumuladas pelo indivíduo com maior escolaridade dentro do grupo.
Um dos principais temas entre os
primeiros circos-teatros foi a paixão e a morte de Jesus Cristo, com total
influência da igreja cristã – e que traz, em si, a dualidade característica do
texto melodramático.
Em uma pesquisa que aborda a história do
teatro Nh’ana, cuja proprietária, Isolina, era irmã de Nhô Bastião, o patriarca
da família Serelepe, Andrade Jr. (2000) enfatiza a astúcia da proprietária do
estabelecimento que, ao chegar às novas praças, se encarregava de preparar a
encenação de uma peça que pudesse exercer a função de “chamariz” entre padres e
irmãs de caridade, garantindo a sua presença no pequeno circo, chancelando as
suas apresentações e liberando, desse modo, os devotos a frequentarem tal
espaço.
Porém, a temática religiosa não
era suscetível ao aproveitamento corporal, tradição no meio circense e, em
virtude disso, o circo-teatro passou a investir também na adaptação de romances
e folhetins, mais ao gosto do público:
Suspiros
românticos aliavam-se aos preceitos morais e o melodrama invadiu a cena
circense, em companhias de todos os portes (...), as pequenas companhias, que
não tinham condições estruturais e financeiras e mantinham um elenco reduzido,
tinham finalmente condições de expandir seu espetáculo para a adoção de uma
segunda parte puramente teatral, com montagens sustentadas pelo poder de emoção
da palavra, com o referencial melodramático não espetacular, mas temático.
(PIMENTA, 2009, p. 42)
Estabelecia-se, por conseguinte, um
novo filão às companhias, assim como o público interiorano passava a ter maior
contato com uma cultura supostamente erudita – neste sentido, parece
dispensável avaliar-se a erudição destes textos, mas, sim, a novidade que eles
representavam para as cidades menores, sem acesso a muitas formas de
divertimento, sem lastro cultural, ao mesmo tempo, sem condições que lhes
possibilitassem apreciar encenações de grande vulto levadas ao público das
capitais, por exemplo, com mais experiência na apreciação do gênero dramático e
com um gosto teoricamente mais apurado.
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