domingo, 17 de fevereiro de 2019

A realização de um sonho: a tese torna-se livro


            A minha tese de doutorado toma, finalmente, a forma de publicação. Aqui, vai uma palhinha do texto introdutório, em que justifico a escolha do tema: melodrama, teatro mambembe, Teatro Serelepe.

Na foto, meu pai, Mario, que me ensinou a amar a arte, ao lado
palhaço Marcelo Serelepe (2006)
        Como a maioria das cidades do interior do Brasil, poucas diversões sempre estiveram disponíveis para a população de Restinga Seca. A principal delas consistia no passeio dominical pela gare para esperar o trem “passageiro”, o que incluía compra e venda de doces e troca de olhares furtivos entre os jovens de então. Mais tarde, com sessões nem sempre pontuais e com filmes nem sempre inéditos, um cinema foi aberto e as noites ganharam um novo atrativo. De resto, as alternativas sociais restringiam-se à missa e às visitas entre famílias. Deve-se ainda mencionar, como fonte de diversão, as emissoras de rádio da capital que traziam notícias, músicas, radionovelas.

Embora recebesse circos e parques, a cidade parece não ter estabelecido um elo afetivo com eles, os parques e os circos faziam a praça e iam embora, nem sempre voltavam. Mas, no início dos anos 1970, já emancipada politicamente, desde 1959, a pequena cidade, praticamente alheia à ditadura militar, recebeu um teatro itinerante, montado em chapas de alumínio, com cadeiras e arquibancadas destinadas à assistência e um palco, modesto, em que eram encenadas as peças, em geral, adaptações de dramas, melodramas, farsas, canções e filmes consagrados. Nascia, ali, uma relação de afeto, pautada pela descoberta, pela partilha, pela emoção. Durante três meses, o Teatro Serelepe ocupou as noites restinguenses e um mundo novo descortinou-se (senão para todos os habitantes, pelo menos, para uma menina de sete anos que passou a conviver com termos como “ponto”, “coxia”, “cenografia”, “sonoplastia” e um mundo mágico, deslumbrante que lhe encantou os olhos e a alma. O nome da menina? Elaine dos Santos).

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