Em
um tribunal, estão presentes um juiz; um promotor; um escrivão; Norberto, o
advogado de defesa; Carolina, a mãe do acusado; Julio,
o acusado; e os jurados. Assim, inicia-se O
seu último Natal, cujo título original é Os transviados, peça, em três atos, atribuída a Amaral Gurgel.
O
promotor detém a palavra e acusa, alega que o assassino matou pelo prazer de
matar, recorda e destaca as qualidades da vítima, João Carroceiro; lembrando
que, no primeiro julgamento, Julio já havia sido condenado e não fora defendido
pelo irmão. O promotor ainda rememora que Julio já havia sido condenado por
roubo e que a sua mãe estivera, de casa em casa, implorar, junto aos jurados,
clemência para o filho. Por fim, o promotor enfatiza que Julio teria um
atenuante, o pai alcoólatra, mas que isso não seria motivo suficiente para
limitar-lhe a pena.

Na
sequência, Norberto, emocionado, começa a defesa do irmão, conta dificuldades
financeiras enfrentadas pela família. Dirigindo-se ao promotor, Norberto
afirma-lhe que recordar o pai feriu o réu, o advogado, a mãe, uma família
inteira, tendo ressuscitado uma sombra que lhe servirá como defesa. Norberto
historia os sofrimentos familiares, o vício do pai, o tratamento brutal dedicado
à mulher e aos filhos. Lembra que a mãe vivia como uma escrava, obediente ao
seu senhor que, uma tarde, foi trazido morto: “Felizmente morrera!” Para
minimizar a miséria que se seguiu, Julio começou a trabalhar. Norberto
tornou-se advogado. A irmã de ambos, com o amparo de Julio, cursara o
magistério e tornara-se professora. O irmão mais novo, Antonio, seguira para o
seminário e, em breve, tornar-se-ia padre. Quando todos haviam encontrado o seu
caminho, Julio teria sucumbido ao vício do pai. O advogado de defesa e irmão do
réu passa a discorrer sobre a vida de Julio. Um roubo, um processo, a
absolvição. O promotor interrompe-o e alerta que é um absurdo pedir clemência
para um assassino. Mas Norberto avisa-lhe que não pede piedade para o
assassino, implora perdão para um infeliz que morrerá vítima de um aneurisma na
aorta.
O
segundo ato inicia-se em uma sala modesta com sofá ao centro e uma escada
lateral, a casa de Carolina, mãe de Julio e Norberto. Lidia, a filha, chega e
reclama que o cão da família, Sultão, vive sujando a casa, sugerindo que o
animal seja sacrificado. A mãe, contrariada, afirma que não o fará, afinal, o
cachorro pertence a Julio. Indagada por Norberto, Lidia reclama da vila, das
pessoas, da escola em que trabalha e conta que, ao casar-se, pretende abandonar
o magistério. Lidia mostra-se fria, incomodada com a situação de Julio.
Norberto, na ausência da mãe, destila todo o seu desprezo pelas atitudes da
irmã.
O
terceiro ato passa-se no mesmo espaço, estão em cena Carolina, Lidia e Antonio
que elogia o presépio preparado pela mãe. Lidia, mais uma vez, mostra-se
incomodada com Julio, que se diz encabulado, inclusive, com o tipo de alimento a
ser servido e que teme não saber comportar-se à mesa, mas, convencido que a sua
presença é importante, parece animar-se. Enquanto Julio afasta-se para
barbear-se, chega Paulo, o médico, noivo de Lidia. Norberto explica-lhe que
Julio vive na casa da mãe, embora tenha estado cinco anos preso; Antonio, por
sua vez, completa que o irmão está condenado à morte em razão de um aneurisma.
Norberto libera o médico de sua palavra, quanto ao casamento, se, por ventura,
a verdade a respeito de Julio possa constranger-lhe. O médico lamenta que a
noiva não tenha contado nada sobre o assunto, mas garante que a história não
muda a sua decisão.
Paulo
e Lidia ficam a sós, ele confere-lhe um presente e reclama a sua falta de
confiança para contar-lhe a história de Julio. Ela alega vergonha e, na
sequência, chora, traz à tona todos os ressentimentos de infância e, ao
encerrar as suas lembranças, julga-se outra pessoa, percebe que tem sido má
para os seus, que humilha Julio quando, na verdade, ama-o. Julio chama pela
mãe, quer saber se os convidados já chegaram e, em seguida, grita, diz que
sente dor. Norberto e Antonio colocam-no em um sofá, Paulo examina-o e sugere
que o levem a um hospital. Lidia dirige-se ao irmão e pede-lhe perdão. Julio
pede pela mãe, quer a sua mão, tem medo. Antonio aproxima-se e Julio pede
perdão, a primeira missa do irmão não será a missa festiva de Natal, mas uma
missa de corpo presente.... Pede que a mãe segure a sua mão... Morre. Lidia
grita, Carolina questiona o médico e Antonio afirma: “O teu filho nasce para
Deus”.